segunda-feira, 5 de março de 2012

O Parkour



Parkour – abreviado por pk – (em português: percurso) é uma atividade física que tem por finalidade se deslocar de um ponto ao outro de uma forma rápida e fluente utilizando somente as habilidades e capacidades do próprio corpo sem quaisquer tipos de acessórios ou equipamentos. (Brandão, 2005) Essa atividade física esta sendo muito procurada por diversas pessoas em muitas partes do mundo. Homens que praticam Parkour são reconhecidos como traceur e mulheres como traceuses. Traceur e traceuses são substantivos derivados do verbo tracer que normalmente significa ‘traçar’ ou ‘ir rápido’. É considerado uma atividade física e não um esporte, pois não há competição dentro do Parkour. A única ‘competição’ que cabe dentro da filosofia do Parkour é a do praticante contra ele mesmo, superando a cada dia, a cada treino, obstáculos físicos – tais como muros corrimãos; psicológicos – tais como medo, inseguranças; sociais – tais como colaboração da família, da sociedade. Porém, essa luta constante é que faz o Parkour se tornar atrativo, desenvolvendo a autoconfiança e superação nos praticantes, fazendo com que cada treino seja único e motivante. As inspirações para esta modalidade surgiram de várias partes, sendo uma delas o Methode Naturelle (Método Natural) desenvolvido por Georges Hébert no séc. XIX. Esse método consiste na interação do homem com a natureza, buscando a saúde através de exercícios naturais (Assis, 2007).

Georges Hébert

 
Hébert deduz uma série de 10 grupos de exercícios: 1- marcha; 2- corrida; 3- salto; 4- quadrupedia; 5- trepar (escalar); 6- equilíbrio; 7- lançamentos; 8- transporte; 9- defesa; 10- natação. Para ele, esses 10 gêneros de exercícios, ou ‘atos naturais’, podem ser utilizados em sua forma simples, ou seja, a execução variada entre si, acrescida de atividades ligadas à vida prática e aos divertimentos. (Hébert, 1941 a, p.10, apud Soares, 2003, pág. 27).
Um dos elementos centrais na educação dos escoteiros e, sem dúvida, o altruísmo, e o e, também no método natural. ‘Estar sempre pronto’; ‘ ser forte para ser útil’, são frases imperativas empregadas por Hébert em sua obra, na qual a natureza se apresenta como o lugar ideal para treinar essa forca altruísta... (Soares, 2003, pág. 30).
“... a interação do homem com a natureza acontece mediante o contato com ela. A vida moderna trouxe muitas facilidades para a sobrevivência da humanidade, porém afastou-a da natureza.” (Bregolato, 2002 pág. 36). O Parkour resgata esse contato que perdemos com a natureza.



 Raymond Belle

Em meados de 1980, Raymond Belle, um ex-combatente do Vietnã começou a passar para seu filho, David Belle, algumas técnicas que usava para se deslocar eficientemente sem ser notado pelo inimigo. Essas técnicas foram passadas no Vietnã e são baseadas no Método Natural. David Belle, treinado por esses conceitos, começou a treinar na sua cidade e desenvolver as técnicas. Junto com amigos, atingiram um nível avançado e começaram a ser notados pela mídia, e assim nasceu o Parkour. O nome Parkour vem do "Parcours du Combattant" (corrida de obstáculos militar). O "Combattant" foi retirado por não se tratar necessariamente de militarismo. O "s" foi tirado para refletir a eficiência: Não é eficiente usar um S que não é pronunciado. E o “k” foi incluído para dar um tom mais "agressivo", compatível com a prática perante os obstáculos. No início de 2004, praticantes de Brasília, Belo Horizonte, Florianópolis e São Paulo começavam a imitar vídeos que tinham visto na Internet. Assim começaram a se unir através da internet e descobrir melhor sobre o Parkour e sua origem. A partir disso, a ABPK (Associação Brasileira de Parkour) e outros grupos foram criados. Com o surgimento de mais informações na internet e evolução nos treinos, o verdadeiro teor do Parkour começou a ser passado a partir de 2006, melhorando a compreensão, treino e mentalidade daqueles que já o praticavam. (Wainer, 2008).

 David Belle
 
Pode-se dizer que a sociabilização é um dos espíritos do Parkour, pois há nos traceurs (praticantes de Parkour)  os sentimentos altruístas, de ajudas mútuas, integração social, e porque não dizer que existe o espírito de professores, sempre preocupados em ensinar técnicas de movimentos, métodos de treinos, a filosofia e o método de vida do traceur. ...essa força moral e altruísta. Uma força que reside não somente nos músculos, na capacidade respiratória, na destreza, mas antes de tudo na energia que utiliza. (Soares, 2003)
 
Na realidade, a tendência mais profunda de toda atividade humana e a marcha para o equilíbrio. E a razão que exprime as formas superiores deste equilíbrio – reúne nela a inteligência e a afetividade. (Piaget, 1994, pág. 65). Há também a presença do processo de equilíbrio entre o homem e a sociedade. Existe sempre a presença de trocas de informações entre o sujeito e o meio, fazendo com que suas ideias, comportamentos sejam expressadas e aceitas. A internet passou a ser a maior aliada para contribuir no crescimento e na divulgação do Parkour para a sociedade. Apareceu em várias reportagens na mídia, então o Parkour passou de desconhecido a uma disciplina praticada no mundo todo. A história do Parkour no Brasil tem seu início no começo de 2004. Surgiram páginas na internet sobre a prática do Parkour. (Wainer, 2008).


Por ser uma modalidade nova e diferente, há em alguns casos a falta de informação, de aceitação e até mesmo de respeito para como traceur.
“Necessário que o respeito cesse de ser unilateral e se torne mútuo.” (Piaget, 1994, pág. 40). Sendo assim o Parkour propõe, silenciosamente, esse equilíbrio entre a sociedade e o traceur. Fazendo com que os benefícios sejam para ambos os lados.
O aspecto físico é visivelmente o aspecto mais presente no traceur. Ele auxilia na melhora das habilidades motoras e nas capacidades físicas. (Muzy, 2006). Movimentos – característica de comportamento de um membro específico ou de uma combinação de membro. Neste contexto, movimentos são partes que compõe as habilidades. (Magill, 2000, pág. 07).
“O Parkour consiste em uma mistura infinita de técnicas de saltos, equilíbrio, escalada, corrida, força, coordenação e concentração. Onde o foco é desenvolver as habilidades físicas e mentais para se mover em qualquer ambiente.” (Wainer, 2008).
O objeto no qual o traceur desenvolve suas técnicas são variados. Podem ser criados novos movimentos, desde que tenham a essência do Parkour, agilidade e eficiência.
“Um pouco importante a ser considerado, é que uma variedade de movimentos pode produzir a mesma ação, e dessa forma atingir a mesma meta.” (Magill, 2000, pág. 07).
“Ambiente se refere especificamente ao objeto sobre o qual a pessoa esta agindo ou as características do contexto no qual a pessoa realiza a habilidade.” (Magill, 2000, pág. 08).
Podemos também classificar a prática do Parkour como uma habilidade motora aberta....habilidade motora aberta é uma habilidade desempenhada em um ambiente não-estável, onde o sujeito ou o contexto varia durante o desempenho da habilidade. Para realizar com sucesso uma habilidade dessas, o praticante deve agir de acordo com a ação do objeto ou das características de alteração do ambiente. (Magill, 2000, pág. 09)
Em cada movimento do Parkour estam presentes algumas das qualidades motoras. Sendo todas elas segundo Bregolato, (2002): 1 - coordenação motora; 2 - flexibilidade; 3 - força; 4 - velocidade; 5 - agilidade; 6 - equilíbrio; 7 - resistência; 8 - ritmo; 9 - descontração.


Dois fatores importantes para o traceur são a própriocepção e o equilíbrio. “A própriocepção é o senso de consciência corporal e de posição.” (Gallahue, 2005, pág. 450). Porém o equilíbrio, fator de capacidade física, é imprescindível no aspecto físico. E presente em qualquer movimento do Parkour, desde uma simples corrida ou um salto de precisão a uma escalada. (Edwardes, 2006).
Equilíbrio – Qualidade física conseguida por uma combinação de ações musculares com o propósito de sustentar o corpo sobre uma base, contra a lei da gravidade. Por grau de dificuldade pode-se considerar: pular, andar em plano de alto relevo... (Bregolato, 2002, pág. 30).
Tendo o domínio desses fatores, o traceur tem mais segurança e confiança para executar quaisquer movimentos.


 
O Parkour na Escola



O Parkour na Escola objetiva em desenvolver habilidades motoras e psicológicas, que poderão ser refletidas no dia-a-dia dos alunos, proporcionando melhor qualidade de vida e maior interação com outros colegas.

“Nosso objetivo, é que os alunos vejam no Parkour uma nova possibilidade de crescimento físico e mental já que se trata de uma atividade completa tanto pelas capacidades físicas que desenvolve, quanto pelo controle mental que inspira: força de vontade, determinação, motivação, resistência e coragem. O praticante irá constantemente avaliar o seu exterior (obstáculos, distância, altura e riscos) e seu interior (medo, capacidade, condicionamento), na tentativa de perceber seus limites e sua capacidade de rompê-los. Objetivando que a disciplina seja mais do que uma prática puramente corporal, podendo ser encarada como filosofia, estilo de vida e caminho para o autoconhecimento.” (Lima 2010).
Pelo fato de o Parkour ser uma prática não-tradicional, “é possível que alunos que não encontram espaço em outras práticas, que muitas vezes trabalham com conteúdos restritos e excludentes, possam desenvolver potencialidades até então desconhecidas e que vejam no Parkour uma nova possibilidade de crescimento físico e mental”( Rondinelli, 2011), já que se trata de uma atividade completa tanto pelas capacidades físicas que desenvolve, quanto pelo controle mental que inspira: força de vontade, determinação, motivação, resistência e coragem. O aluno irá constantemente avaliar o seu exterior (obstáculos, distância, altura e riscos) e seu interior (medo, capacidade, condicionamento), na tentativa de perceber seus limites e sua capacidade de rompê-los. Objetivando que a disciplina seja mais do que uma prática puramente corporal, podendo ser encarada como filosofia, estilo de vida e caminho para o autoconhecimento.

O Parkour apresenta-se na contemporaneidade brasileira como um desafio interessante para nós, do ponto acadêmico e científico, se o pensarmos enquanto uma proposta de caráter pedagógico, inovador, no sentido de desenvolver uma pratica emancipatória no trato com o conhecimento da Educação Física e proporcionar novas possibilidades de experimentações corporais, numa construção sócio-histórico-cultural. E analisando esta expectativa sobre ele, Taffarel (2000), no seu artigo intitulado "Sistema complexo Temático: homem-esporte-saúde" afirma que:
"O homem põe-se em movimento, pelas suas pernas, braços, cabeças e mãos, as forças de que seu corpo é dotado para se apropriar das matérias e dar-lhe uma forma útil à sua vida, Vê-se, então, que essas atividades não abjetam a ?expressão corporal? de idéias ou sentimentos. Elas são a materialização de expressões ideológicas, religiosas, políticas, filosóficas ou outra, subordinadas as leis histórico-sociais que originam formas de ação social elaboradas e, por isso, são portadoras de significados ideais do mundo objetal, das suas propriedades, nexos e relações descobertas pela prática social conjunta."

Conclusão
  

Há uma busca pelo prazer extremo, no limiar, com o máximo de excitação e adrenalina. E de certa forma, a atividade física aqui discutida, o Parkour, se inseri dentro dessa nova "onda de novidades" proveniente do mundo da informação on-line, globalizada, circulando nos mais diversos meios de comunicação, e que, de certa forma, transformam-se em modismo.
Ao discutir a relação das praticas culturais da juventude com a realidade da cidade de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, Carraro (2002) afirma que: "as culturas juvenis são exemplares da efetividade desse sistema global de comunicação, pois em grande medida se definem pela adoção de determinados signos de identidade que as interconectam num mercado cultural global".
E de certa forma o Parkour é um resultado dessa cultura global, disseminada pelos meios de comunicação global.
Podemos concluir que para os profissionais do lazer e da educação física, o Parkour dá fortes indicações de como tende a ser o comportamento relativo às práticas corporais no futuro, afinal descobrimos que a liberdade de movimentos, a busca de desafios subjetivados, a cooperação, a solidariedade, o voluntariado, o aprendizado do enfrentamento do risco, a melhoria das condições físico-motoras pode ocorrer de modo muito distinto daquele descrito nos livros e artigos que atualmente encontramos nessas áreas de conhecimento, suscitando novos entendimentos e olhares para o corpo em suas dimensões radicais, de aventura e de ação.







REFERÊNCIAS:
ASSIS, Victor Lereu de, 2007 - - Le Parkour: Uma atividade física contemporânea com um prisma holístico – Disponível em: http://clubedobemestar.blogspot.com/2010_05_01_archive.html - acesso 23/10/11.
BRANDÃO, Alberto, 2005. ABPK – Associação Brasileira de Parkour - Disponível em: http://www.abpk.org.br/category/abpk/  - acessado em 23/10/11.
BREGOLATO, Roseli Aparecida – Cultura corporal da ginástica – Editora Cone – 2002.
CARRARO, Paulo Cesar Rodrigues. Os Jovens e a acidade: identidades e práticas culturais em Angra de tantos reis e rainhas. Rio de janeiro: Remule Dumará/FAPER. 2002.
EDWARDES, Dan, 2006 - ABPK – Associação Brasileira de Parkour - Disponível em:  http://parkourbauru.blogspot.com/2006_11_01_archive.html - acessado em 23/10/11.
GALLAHUE, David – OZMUN, John C. – Compreendendo o desenvolvimento motor – Bebes, crianças, adolescentes e adultos – Editora Phorte –2005 – 3ª Edição.
HAYWOOD, Kathleon M. – GEFCHELL, Nancy – desenvolvimento motor ao longo da vida – Editora Artmed – 2004. 3ª edição.
LIMA, Lucas Ribeiro de, 2010 - ‘Objetivo Educacional’ – Plano de Aulas Parkour OPET – Disponível em : http://www.aulasdeparkour.com.br/parkour-na-escola-colegio-opet/ - Acessado em: 18/11/2011.
MAGILL, Richard A. – Aprendizagem motora – Conceitos e aplicações – Editora Edgard Blücher LTDA. – 2000 MICHAELIS, Dicionário – Editora Melhoramentos LTDA., 2007 - Disponível em: - acessado em 23/10/11. MUZY, Paulo Cavalcante, 2006 - Le Parkour: primeira impressão médico-desportiva.Disponível em: < http://www.pkabc.com.br/artigo_3.htm> acesso em: 23/10/11.
PIAGET, Jean – Seis estudos da psicologia – Editora Forense Universitária – 1994.
RONDINELLI, Paula 2011 – O Parkour - Disponível em : http://www.brasilescola.com/educacaofisica/parkour.htm -
SALVADOR, César Coll – Psicologia da educação – Editora Artmed – 1999.
SANTANA, Ana Lucia - Arte no Paleolítico - Disponível em : http://www.infoescola.com/artes/arte-no-paleolitico  Data de publicação: 28/08/2007, Acessado em: 28/11/2011.







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