sábado, 30 de agosto de 2014

Capoeira, Maculelê e Samba de Roda: arte-luta-dança como elementos culturais da Bahia.





 A capoeira






A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão-de-obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas.
Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta.
Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos.
A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.




Mestre Pastinha (1889-1981)
 
Mestre Bimba (1900-1974)















 
Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro. 


A capoeira possui três principais estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira Angola difundida pelo Mestre Pastinha. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita mandinga (malícia). O estilo Regional caracteriza-se pela mistura da mandinga da capoeira Angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o Contemporâneo, este sim utiliza as acrobacias, e une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade.





O Maculelê




Paulino Almeida de Andrade (1876-1969), o Mestre Popó.
O Maculelê é uma manifestação cultural oriunda cidade de Santo Amaro da Purificação – Bahia, berço também da Capoeira. É uma expressão teatral que conta através da dança e de cânticos, a lenda de um jovem guerreiro, que sozinho conseguiu defender sua tribo de outra tribo rival usando apenas dois pedaços de pau, tornando-se o herói da tribo.

Sua origem é desconhecida. Uns dizem que é africana, outros afirmam que ela tenha vindo dos índios brasileiros e há até quem diga que é uma mistura dos dois. O próprio Mestre Popó do Maculelê, considerado o pai do Maculelê, deixa claro a sua opinião de que o Maculelê é uma invenção dos escravos no Brasil, assim como a capoeira.


Mesmo havendo muitas versões de lendas sobre a origem do Maculelê, todas sustentam essa versão de um guerreiro sozinho, enfrentando a invasão inimiga com apenas dois bastões.

 



 Samba de Roda




Acompanhado por atabaques, ganzá, reco-reco, viola e violão, o solista entoa cantigas, seguido em coro pelo grupo a dançar. Ligado ao culto de orixás e caboclos, à capoeira e às comidas à base de dendê, o samba de roda teve início por volta de 1860, como forma de preservação da cultura dos negros africanos escravizados no Brasil. A influência portuguesa, além da língua falada e cantada, fica por conta da introdução da viola e do pandeiro.
 

Casa do Samba de Roda da Bahia - Santo Amaro da Purificação


Tradição milenar no Recôncavo Baiano, a manifestação concorre, inclusive, ao título de Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Presente no trabalho de renomados compositores baianos – Dorival Caymmi, João Gilberto, Caetano Veloso -, esse misto de música, dança, poesia e festa revelam-se de duas formas características: o samba chula e o samba corrido. A chula, uma forma de poesia, é declamada pelo solista, enquanto o grupo escuta, só se rendendo aos encantos da dança após o término do pronunciamento, quando um participante por vez adentra o meio da roda ao som da batucada regida por palmas. Já no corrido, o samba toma conta da roda ao mesmo tempo em que dois solistas e o coral se alternam no canto.





Atualmente, não só a Capoeira, mas o Maculelê e outras danças folclóricas regionais são apresentados enfocando seus mais variados aspectos; a saber: ritmo, identidade étnica e racial, arte, luta, defesa pessoal, desporto, lazer, educação, folclore, preparação física, filosofia de vida, entre outros.


Nota-se, que nas últimas décadas é crescente aceitação ocorrida no que tange ao diálogo da cultura popular com a educação formal e informal. Assim sendo, alguns elementos vistos como manifestação cultural, são muito usados e difundidos em nossas escolas e em diversos projetos sociais e educativos por todo país, o que tem favorecido sua valorização como forma desportiva, cultural e educativa. 



Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Plínio de. Pequena História do Maculêle.

CAMPOS, Hélio José B. Carneiro. Capoeira na escola. Salvador: Presscolor, 1990.

IPHAN. Samba de Roda do Recôncavo Baiano. Dossiê IPHAN 4: Ministério da Cultura, 2007.

MUTTI, Maria. Maculelê. Bahia: Secretaria Municipal de Educação e Cultura Salvador, 1978.

REIS, L. V. S. (2000) O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher Brasil.

SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.





Colóquio Científico da Capoeira




O Colóquio Científico da Capoeira foi realizado no auditório Zélia Gattai no dia 25 de novembro de 2013 das 19h ás 22h, foi mediado pelo professor João Franco (Mestre Rasteira), e contou com a participação dos alunos do Mestre Bimba: Pulinho, Agulhão, Piloto, Cafuné, Soló, Itapoan, e Xaréu, além da participação especial do grupo de capoeira Unicar, do professor Zambi.

 
Sérgio Fachinetti Dória - Mestre Cafuné
Sérgio Fachinetti Dória (Cafuné), Com o irreverente título Ele não joga capoeira, ele faz cafuné: histórias da academia do mestre Bimba nos trouxe muitas histórias pitorescas e algumas curiosidades de sua vivencia na academia de Bimba junto com os outros alunos. Já o Mestre Itapoan, além de muitas histórias, falou também do seu trabalho de pesquisador e escritor e a dificuldade de preservação do seu acervo pessoal sobre Capoeira, e a falta de incentivo e investimentos por parte dos órgãos públicos neste setor.






O evento finalizou com uma performance do grupo Unicar juntamente com o professor Zambi mostrando uma ‘cintura quebrada’, e logo após, uma roda de capoeira com a participação da plateia.
 
Com certeza, este evento, foi a oportunidade rara de conhecer, pessoalmente, em um mesmo lugar, esses personagens que ajudaram a moldar e difundir a Capoeira Regional, e ouvir diretamente da fonte as histórias desses mestres.